O projeto de pesquisa “Redes de poder e direitos de propriedade na Fazenda Imperial de Santa Cruz (1808-1882)” começou a explorar um corpus documental pouco visitado (o fundo 'Fazenda de Santa Cruz' do Arquivo Nacional) com novos olhares, novos problemas e novas ferramentas. O recorte espacial é a Fazenda Imperial de Santa Cruz, porque julgamos ter encontrado uma importante base documental para coleta de dados e comprovação de nossas hipóteses. Em 1889, com a proclamação da República, a Fazenda de Santa Cruz passou ao patrimônio do governo federal, administrada pelo Ministério da Fazenda. Ela ficou subordinada a esse ministério até meados da década de 1960, quando foi extinta. Hoje, em fundo específico do Arquivo Nacional, podem ser encontrados seus vários conjuntos de instrumentos administrativos, desde o século XVIII até a sua extinção.
Nesse sentido, o grande desafio suscitado pela descoberta desse fundo foi, a partir da relação dos foreiros com a administração fazendária, ver os ocupantes, moradores, posseiros e grandes criadores formando suas bases de sobrevivência ou de acumulação, mobilizando suas redes sociais e políticas e seguindo ativamente estratégias pessoais, familiares ou de classe perante as normas dos governos que não lhes agradavam ou que não podiam aceitar. O projeto “Práticas sociais e táticas de foreiros na transformação de direitos de propriedade da terra” dá continuidade a essas pesquisas no sentido de integrar questões teóricas e problemas voltados à compreensão das transformações da propriedade da terra na estrutura agrária brasileira. O objetivo é observar processo social visto “de baixo” e “por dentro", redimensionando a influência de fatores ditos externos, legais, macroeconômicos ou macro políticos, tradicionalmente vistos como os motores das transformações no mundo rural. A metodologia de ambas as pesquisas está firmemente ancorada na formação de uma base de dados construída a partir dos nomes que constam em algumas listagens que estão sendo paulatinamente descobertas e tabuladas pela equipe. Seguindo o método onomástico proposto por Carlo Ginzburg (1991), busca-se o cruzamento intensivo destes nomes em diversas fontes. Consideramos que esse método abre inúmeras possibilidades para a pesquisa histórica, pois o cruzamento com outras fontes torna possível a recomposição da trajetória de um mesmo indivíduo a partir de diversos eventos em que se envolveu. Entram em cena as técnicas da micro-história italiana, como foi experimentada por Giovanni Levi (1985, 2000), Edoardo Grendi (1978) e Carlo Ginzburg (1991). A partir dessa operação esperamos ser possível tanto vislumbrar a história social de uma população e de seus grupos quanto recompor as redes sociais nas quais os sujeitos estavam inseridos.
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